Sim, tudo vai bem. Será?
Era um mundo como todos os outros, até que ela sentisse a necessidade de construir o seu próprio mundo. Até o dia em que ela percebeu que a literatura é capaz de construir e explicar o mundo. E o quão rica é a capacidade do homem de se desenvolver e fazer escolhas. Escolhas essas embasadas na ética, cidadania ou nenhuma delas.
Era um mundo admirado por ela, porque nele habitavam pessoas grandes. E era tão bonito vê-las resolvendo situações do dia a dia, familiares e de ordem social. Essa boniteza a fez sonhar, e sonhar, e sonhar grande. Até que ela também foi crescendo, sonhando, e desenvolvendo suas necessidades. Dentre elas, a percepção e a maturidade, as quais foram suficientes para fazê-la notar que ser grande nem sempre é uma grandeza. O mundo é grande, e dentro dele todos se encaixam. Mas nem todos vivem as grandezas que nele existem. Alguns sonhos foram realizados, algumas grandezas se fizeram morada no mundo dela, mas foram trancafiadas e vão acabar caindo, também, na morte. Algumas grandezas do mundo, parecem fazer sentido só no mundo e literatura simbólicos. O homem parece não ter entendido a noção do tempo e a rotatividade do mundo. Ou será que os adultos são mesmo complicados?
Algum dia foram vistas pessoas atirando-se em nome de suas renomadas e bonitas funções, para burlar alguma lei e aderir a um direito que é tão somente um dever, e vice-versa. Outras vezes, pessoas se empoderando do nome de seus cargos para coibir e até intimidar pessoas, instituições no exercício, também, de sua cidadania.
Ela não entende e nunca vai entender que mundo é este que cada um cria e utiliza-o como um escudo contra o outro que, "heteronimamente" andam ou deveriam andar juntos.
E tudo vai bem.
Vai sim.
No mundo que se cria, individualmente, vai bem.
No dela não. Não vai bem o mundo no qual ela se encaixou, que lhe foi apresentado como a casa de todos, do qual se cuidaria e se construiria vidas, castelos e histórias. Não vai bem o mundo do qual ela foge todos os dias e se enclausura no seu mundo particularmente em paz. Não vai bem um mundo que se acaba e se eterniza no outro sem exemplos edificantes. Não vai bem um mundo, no qual a preocupação é com seguidores virtuais e não com seguidores "geracionais". Não pode ir bem um mundo de regentes e regidos politicamente.
Ou será que vai?
O mundo dela era um mundo possível, que não se vê com os olhos, como o do Pequeno Príncipe, daqueles que a criança admira e se prontifica a ser também um herói (no sonho) e nas idealizações da vida adulta. Porque para elas, crianças, heróis são pessoas que vivem para cuidar e salvar vidas.
No seu mundo (encantado) ela ainda acredita no mundo. E lastima encontrar no seu dia a dia, heróis "penalizados" por suas "desfunções" e heróis aclamados por seus números.
No mundo dela, ainda há a valorização do eu, como aquela coisa de eu lírico que se aprende na escola. Mas um eu "capaz" de ser feliz por meio de suas habilidades, espaços que lhe são oportunidades e pessoas com quem se convive.
No seu mundo tudo vai bem, pois ela acreditou no mundo que construiu.
Vai bem.
Até o fim.
Márcia Seven
Enviado por Márcia Seven em 27/07/2020
Alterado em 27/07/2020