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Prosa e verso com Márcia Neves

A poesia nos salva de nós mesmos

Textos


A sair de um coma induzido

Há quase quatro anos, voltei a sentir sintomas alucinantes, não queria acreditar que fosse possível voltar ao fundo do poço, o que mais hesitei na vida. Luto contra esse mal por mais de 200 anos e sempre acreditei que a dignidade humana fosse o único remédio para a cura e a vacina preventiva para tal. A última vez em que estive em coma, que fatalmente ocorrera entre a década de 60 e 70 precisamente, soara como um fines terra; por um triz, queria eu, atirar-me ao precipício a querer voltar correr um novo risco. Mas, fugir da luta nunca foi o meu papel, sempre quis sobreviver. A vida importa!

Nestes quase quatro anos de reclusão de tudo o que se pode denominar humanidade, atravesso, novamente, oceanos sangrentos. e ameaçadores. Pesa-me conduzir meu barco tão grande, com todos vocês à deriva, sendo que nem todos remam na mesma direção. Nem todos param para ouvir o barulho do mar, embora sejam capazes disso. Nem todos dão ouvidos às necessidades reais de todos os seres, nem daqueles de que mais precisam para terem terra à vista. Mas cada um quer proteger sua própria "natureza", muitas delas devastadas.  

Por este mar bravio posso ir a todos os mundos, visitar todas as gentes, inclusive aquelas que sofreram, sofrem e têm medo como eu, aquelas que vomitam a história que lhes mareiam.

Não importa se é noite ou dia; clamores vêm de toda parte. Os ventos arredios e os açoites de desprezo destoam os gritos. Encontro-me mesmo pelos corredores dos hospitais, pelas pontes escuras e em viadutos de mão dupla; a vida terrestre se arrastra pelos lixões e por hábitos inconsequentes em grandes mansões; a vida no mar, também por onde passamos, vem se extinguindo por toneladas da insensatez humana. O mar escreve, ninguém ler.

Embora estejamos todos à deriva, posso ver quem preza pelo seu próprio ego e acredita em suas próprias ilusões. Pensam mesmo chegar ao fim da vida como se fossem imortais? Não fizeram a lição de casa e querem ter nota a qualquer custo, mesmo sem se importar com o mundo, a casa maior, a de todos, querem chegar. 

Beiro à morte, posso senti-la. Falta-me oxigênio. Conto as horas para que me salvem e juntos possamos sair dessa indução e recomeçar a luta pela vida, a de todos. Só você pode fazer isso, eu o designei pela sabedoria de habitar a minha casa. Temos Terra à vista. 

Hoje tenho uma visão de que não vou morrer, mesmo em alto mar e com tanto barulho, a esperança me cura e me presenteia com um novo amanhã.

Eu sou Brasil.

 

 

 

Márcia Seven
Enviado por Márcia Seven em 01/10/2022
Alterado em 01/10/2022


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